sexta-feira, 23 de novembro de 2018

São Paulo Fashion Week N°46

Clara Rosa e Nathália Souza
Fonte: Antonia Petta, Vogue.com
Em 17/10/2018

SPFW n46
Foto: Protótipo Filmes
É melhor tomar "cuidado com o buraco", adverte o fundador do São Paulo Fashion Week, Paulo Borges, enquanto nos guia pelo espaço Arca, na Vila Leopoldina, que a partir da próxima segunda-feira (22.10) passa a abrigar a semana de moda paulistana. Muito embora o dress code para a ocasião inclua capacetes de segurança, não há o menor sinal de perigo. No ar, apenas poeira e a expectativa para uma temporada que introduz uma série de novidades, do formato ao line-up, e segue até a véspera do fim de semana em que o brasileiro vai às urnas eleger, no segundo turno, um novo presidente. “Realizar esta edição no epicentro de uma discussão tão polarizada é um bálsamo para a vertente criativa do mundo. É um exercício de resistência da criatividade”, diz. “E o SPFW nasceu para isso”, completa.
Ele tem razão. Com 22 anos de existência, a maior fashion week do país sabe uma coisa ou outra sobre mudanças – e não apenas as que apontam alternância de tendências nas coleções. Atravessou crises econômicas, experimentou diferentes lógicas de calendário junto ao mercado. Ficou gigante, ficou mais enxuta, viu marcas nascerem, outras sumirem e, ainda hoje, segue firme em pé. Agora, sob um pé direito de 16 metros.
São só cinco dias até o pontapé inicial da 46ª edição e as 400 pessoas que constroem agora a estrutura do evento dentro de um dos dois prédios do complexo industrial erguido pela Votorantim não param. Desde que o bate-estaca teve início no local, coisa de um mês atrás, muita coisa na paisagem mudou. Outras, propositadamente, permaneceram – entre as características originais preservadas, estão os recortes verticais que, em forma de janela, vazam luz natural durante o dia. E também o mezanino que abrigava a gerência da antiga fábrica, agora convertido em espécie de torre de controle para as projeções em video mapping que vão preencher o galpão nos próximos dias.
Cinco mil metros de veludo bordô costurados em cortinas definem a linha entre entrada e saída das duas salas de desfile. “Nada aqui tem porta, a nossa ideia é transitar”, conta Paulo. As passarelas contam agora com dez metros de largura (versus os quatro metros, por exemplo, dos tempos em que se assistia às apresentações no Prédio da Bienal), deixando literalmente a mensagem que, no que depender deste SPFW, há espaço para a moda hoje.
Em especial, para a nova moda, feita por jovens talentos: com poucos veteranos no line-up (salvo a adição de nomes consolidados no varejo), é principalmente através do Projeto Estufa que a semana de moda leva uma injeção de frescor, colocando em cena marcas pouco ou nunca antes contempladas pela indústria fashion desta maneira. São delas os desfiles para os quais, junto a uma agenda de masterclasses, talks e laboratórios que abordam economia criativa e empreendedorismo, há ingressos à venda (100 por dia, somente nos dias 23, 24 e 25.10), em uma movimentação que enfatiza o novo potencial desejado para a semana de moda. “A ideia é criar acesso e incluir cada vez mais gente na discussão”, conta Paulo.
Foto: Protótipo Filmes
Para não perder a deixa da discussão, pergunto se ele acredita que o efervescente contexto político será alinhavado com alguma das coleções que serão apresentadas na próxima semana (afinal, independente do grau de interesse na própria cidadania, basta ter um celular conectado nas redes sociais para saber que é improvável navegar a comunicação nos dias de hoje, seja lá qual for a mensagem desejada, sem esbarrar nesse assunto – e seres criativos como estilistas estão, frequentemente, explorando traduções para o espírito dos tempos). “Em todos esses anos, o SPFW sempre defendeu liberdade e criatividade, nunca se posicionou de maneira partidária. Também não temos qualquer relação com as propostas de moda trazidas pelas marcas. Ronaldo Fraga, para citar um exemplo, tem discurso político desde sempre, é o caso do artista pensador. Não acho que todos têm que ser como ele e também não acho que não podem ser como ele. Para alguns estilistas esse assunto não entra na discussão. Para outros, faz parte da vida” conclui.

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